Comecei a trabalhar tinha 12 anos. Meu primeiro emprego foi de balconista em um armazém. Sentia-me orgulhoso por poder entregar todo o meu salário no fim do mês a minha mãe para ajudar a pagar as contas de casa. Passei a estudar à noite, o que não foi muito bom para o meu desenvolvimento escolar, matava muitas aulas e acabei perdendo um ano.
Minha diversão favorita, além do futebol, era ir ao cinema. Sempre que podia e ganhava alguma gorjeta, assistia aos filmes. Certo dia, fui ao cinema. Quando ia comprar a entrada o porteiro me chamou. ''Você trabalha no armazém perto do mercado?'' Não entendo o porquê de sua pergunta, respondi: ''Sou eu mesmo''. Para minha surpresa o porteiro me disse: ''Não precisa comprar entrada, entre. Aqui você nunca vai pagar para assistir filme''. Agradeci muito feliz e fui assistir a película. Daí em diante, não perdia um filme. ''De graça até injeção na testa''.
O porteiro tornou-se meu amigo e passou a fazer suas compras comigo. Não demorou muito e entendi o verdadeiro propósito de tanta amizade. Em um sábado, ele trouxe a sua lista de compras como sempre. Quando lhe dei o total da despesa, ele disse: ''Puxa! Esqueci a carteira em casa. Posso levar as compras e pagar na segunda-feira?'' Eu estava preso como um passarinho na gaiola do caçador. Não tive coragem para dizer não. Ele levou as compras e não voltou para pagar. Na verdade, ele voltou para comprar e novamente não pagou.
Eu não era o dono do armazém, estava agindo erradamente, mas não sabia como dar fim naquela situação. Parei de ir ao cinema, mas não adiantou. Conversar com meus pais nem pensar, mamãe me daria uma bela surra. O patrão me mandaria embora na mesma hora se soubesse. Sem ter um amigo confiável para me abrir, continuei a vender sem receber. Não sabia como dizer não ao porteiro.
Ele comprou outra vez e não pagou. Um colega de trabalho viu tudo. Denunciou-me ao gerente. Este me chamou no escritório, chamou-me de cafajeste, ladrão e outros nomes. Disse que não me mandaria embora por consideração a minha família. A única coisa que fiz foi chorar. Fui transferido para outra loja, porém nunca pisei lá de tanta vergonha. Todos os dias, eu levantava na mesma hora, saía para o trabalho, entretanto, ficava perambulando pelas ruas da minha cidade até o horário da escola noturna. Por três meses fiquei arrasado.
Lembrei do Deus a quem mamãe servia. Resolvi ir à igreja. A mensagem tocou-me profundamente. Pedi ajuda a Deus. Entreguei-me a Jesus. Confessei todo o ocorrido para minha mãe. Ela ao invés de repreender-me e me bater, me abraçou e chorou comigo. Um diácono da igreja soube do ocorrido e me deu um novo emprego em um supermercado. Voltei a sorrir.
Com a ajuda de Deus, voltei ao meu antigo emprego, procurei o gerente e lhe pedi perdão. Fui até o cinema e disse ao porteiro que eles estavam esperando pelo pagamento das contas. Nunca mais aceitei favores em troca da minha integridade.
Silmar Coelho é pastor; doutor em teologia e liderança pela Universidade Oral Roberts, EUA; empresário; terapeuta; conferencista internacional; e escritor de 20 livros, entre eles: "Jamais desista", Editora Vida e "Transformando lágrimas em vinho", Editora MK.
Fonte Estudos Gospel